sábado, 10 de dezembro de 2011

Quando a corrida desorganiza o corpo - Desequilíbrios musculares e posturais

O ser humano talvez seja o animal desse planeta que possua o movimento mais complexo considerando ossos, músculos, articulações, eixos, alavancas que resultam na postura e movimentos de um bípede. Justamente por sermos dotados de inteligência é que ao longo do desenvolvimento motor, dependendo das influências sociais e prática ou não de diversas modalidades esportivas as pessoas chegam na fase adulta com desvios diversos na coluna e cadeias musculares. Não seria problema se isso não interferisse na Qualidade de Vida. As origens vão desde problemas psíquicos na formação da personalidade durante a infância e adolescência, erros de treinamentos físicos e as posturas inadequadas no trabalho que hoje são cada vez mais nocivas às estruturas do corpo.

Um interessante trabalho publicado na Revista Brasileira de Medicina do Esporte sobre alterações posturais em atletas brasileiros que participaram de provas de potência muscular em competições internacionais apresenta os seguintes resultados: tornozelo em valgo soma 67%, rotação interna da pelve à direita 60% com o lado oposto mais elevado em 47%, anteversão da pelve 73%, hiperlordose lombar 73%, cifose torácica 53% e cabeça em protusão 73%. Traduzindo isso aí. Corredores de pista de provas curtas, por conta de terem que correr inclinado para a esquerda no sentido anti-horário, acabam ficando com os pés tortos, bum bum arrebitado, quadril desalinhado e a cabeça projetada para frente. Tudo por conta do esforço necessário para manter velocidade máxima nessas provas onde quase a metade da corrida é em curva para a esquerda. A hiperlordose lombar, bum bum arrebitado, decorre em função da força explosiva que os músculos flexores do quadril e extensores dos joelhos tem que fazer no ato de levantar e esticar a perna à frente a cada novo passo. A cifose torácica, corcunda, ocorre em função de uma compensação da hiperlordose lombar. Ou seja, um problema gera outro.

A Academia Americana de Ortopedia define postura, como o estado de equilíbrio dos músculos e ossos com capacidade para proteger todas as estruturas do corpo humano de traumatismos em qualquer posição: em pé, sentado ou deitado.

Não é difícil entender que qualquer desequilíbrio numa ou mais cadeias musculares resultem em outros desequilíbrios compensatórios do lado oposto. No caso em questão também não é difícil entender que todas as cadeias musculares do lado esquerdo do atleta são encurtadas e todas do lado direito alongadas irregularmente por conseqüência do gesto esportivo. Cada modalidade esportiva resulta num padrão corporal e postura específica. Sendo assim, na planilha de treinamento físico de cada atleta deveria constar atividade compensatória. Não é raro vermos treinadores preocupados em aperfeiçoar o gesto esportivo e esquecer das atividades complementares especialmente no esporte de alto rendimento onde o resultado vale dinheiro decidido em décimos de segundo. Não é comum por exemplo atletas de pista fazer trabalho de flexibilidade com intensidades diferentes nas cadeias musculares mais encurtadas que o gesto esportivo desequilibrou. Não é comum vermos corredores de pista correndo no sentido contrário ao habitual para compensar.

Corredores de longa distância também têm suas desordens musculares. Boa parte fica meio corcunda (cifótico), hiperlordótico e têm força desequilibrada nos músculos da coxa podendo ocasionar, por exemplo, desvio de patela. Não é raro fundista reclamar de dores nas costas principalmente na região lombar. Horas de treinamento leva o corredor assumir postura inadequada. Na linguagem popular é quando dizemos que "o corredor sentou". As costas ficam curvadas, os braços arriados e os joelhos flexionados em angulação abaixo do normal. Corredores treinam mesmo estando cansados, gripados e uma boa parcela volta a treinar antes de curar as lesões. "Fala sério". Isso pode dar certo? Não podemos esquecer que nossas fibras musculares têm capacidade limitada de cicatrizações e claro, quanto mais lesões ao longo do tempo, mais encurtados ficam os grupos musculares mais acometidos. Essa também é uma das razões da queda de performance mais ou menos acentuada de corredores mais velhos. A prática esportiva sem sombra de dúvida traz muitos benefícios à saúde desde que, praticada com orientação profissional e bom senso.


Por:

Luiz Carlos de Moraes CREF1 RJ 003529

Fonte:

http://www.copacabanarunners.net/

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